quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Questão de filosofia vida


Estava pensando no post do Oco sobre as drogas, primeiro achei que era questão de ponto de vista de cada um, mas terminei achando que é mais uma questão de filosofia de vida.

Concordo que para viver em sociedade é obrigatório abrir mão de uma parte de nossa liberdade individual. O quanto temos que abrir mão é o que decidi chamar de filosofia de vida.

Vou falar um pouco da minha filosofia de vida - que é um work in progress ( engraçado como certas expressões em inglês são tão significativas que traduzi-las é quase impossível). Voltando ao tema, acho que quem me conhece pouco ( muito também) pode me achar controlador. Em algumas coisas acredito que sim, mas na verdade sou bem liberal quanto à conduta de outros quando não prejudiquem quem está à sua volta. Eu não fico de olho no que meu vizinho faz e sinceramente não estou nem aí para como a maioria vive suas vidas.

No entanto, sou um pensador obsessivo. Existem inúmeras questões que me afligem e quando isso acontece busco conversar, pesquisar, ler e por mim reflito muito. Quando chego a alguma conclusão, essa é a MINHA verdade pessoal a partir daí. Destaco que é minha por estar intimamente ligada a meus valores, minhas convicções e experiências. Não a imponho a outros ( tá bom, admito, imponho um pouco às minhas filhas...) mas também não aceito facilmente que me imponham algo. Para mim existe uma diferença entre respeitar que outro pense diferente e considerar outro ponto de vista válido. Me explico...

Vou usar como exemplo um aspecto da questão das drogas. Eu já li bastante a respeito, me informei, conversei, vi experiências boas e ruins com uso de substâncias que alteram a percepção. Vi as consequencias práticas do vício na vida de algumas pessoas e famílias. Portanto tenho uma opinião formada muito sólida.

Sendo assim, se escuto um legislador/autoridade/jornalista/sociólogo qualquer, uma pessoa que nunca dedicou tempo a essa questão, dizer que a maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas por exemplo, não posso achar válido. O único ângulo que considero que corrobora essa teoria (amplamente difundida) é o fato da maconha ser ilegal e uma vez que já se está em contato com traficantes, comprar outras drogas ilícitas é um passo fácil. Poucas vezes é exatamente assim e se for verdade é mais um motivo para legalizar a maconha.

Esse é um caso em que respeito que ele tenha uma opinião, mas abomino o fato dele tentar impingir isso a outros. Nesse caso sequer tenho respeito pela opinião em si, pois é um pensamento raso sem reflexão ou dados práticos que embasem. Portanto nesse caso aceito que a pessoa pense assim mas sinceramente prefiro que guarde para si mesmo. Do mesmo jeito que tem um monte de assuntos que não opino, pois não conheço o suficiente.

Existem outros casos que são pontos de vista distintos. Ainda na questão das drogas, existem pessoas que acreditam que o estado deve interferir bastante na vida da pessoa, inclusive a impedindo de fazer mal a si mesma. Eu não acredito nessa tutela do estado sobre o indivíduo, acho que cada um deveria poder se drogar até se matar se quisesse, mesmo porque existem inúmeros outros comportamentos destrutivos que são aceitos, é só ver a quantidade de pessoas que se entopem de comida, que fumam, não fazer exercício, são promíscuos, assistem novela, torcem pro Curintia...nem eu sou capaz de sugerir que isso seja controlado pelo estado.

A filosofia de vida dessa pessoa aceita uma interferência maior da sociedade sobre si mesmo. Eu quero que a sociedade fique bem longe de mim e das minhas filhas no que diz respeito a normas de conduta. Eu me garanto, sei me comportar em sociedade, mas não venham querer me impor, tudo tem que ser negociado.

O porque da minha filosofia

Na busca de um maior entendimento li bastante sobre o tema, seguem alguns livros e o que aprendi com cada um:
A Erva do Diabo é um livro de Carlos Castaneda em que ele descreve seu aprendizado com um Xamã chamado Dom Juan. Fala-se muito de um poder que todo homem tem e que pode ser despertado através de uma nova percepção. Para abrir a mente de Castaneda a essa nova percepção que daria acesso a esse poder são usadas diversas drogas em rituais no deserto. Vai encarar??? PDF aqui

As Portas da Percepção/Céu e Inferno ( PDF aqui). Esse eu li faz muito tempo...Aldous Huxley é genial, nesse livro ele defende que nosso cérebro tem capacidades de percepção quase infinitas, e que a evolução favoreceu os cérebros que tem filtros que bloqueiam a maior parte desses estímulos, o que configura uma vantagem na vida prática. Sem os filtros, seríamos atropelados constantemente por tantos estímulos que seria impossível levar uma vida normal. As drogas e outros métodos permitiriam desligar alguns filtros temporariamente, permitindo acesso a esses estímulos. Alguns artistas e loucos teriam esses filtros defeituosos e vivem nesse estado alterado constantemente, o que inviabiliza a vida prática.

O Almoço Nu é uma loucura total. Escrito por William Burroughs ( o cara era tão louco que matou a namorada brincando de Guilherme Tell...). No livro, o personagem e sua esposa ficam viciados em pó de detetização e ele vê máquinas de escrever transformarem-se em baratas. Clássico representante da geração Beat junto com Jack Kerouac, Burroughs viveu sua vida como seus livros, numa doideira total, com resultados trágicos. Bom exemplo de se ver onde a droga pode levar alguém...

Tenho também um livrinho da SuperInteressante que fala da teoria do Dano Mínimo. De acordo com ela, a política atual de proibição e repressão causa mais danos à sociedade do que uma eventual liberação causaria. Isso englobando todos os aspectos da repressão como gastos com segurança pública, policiamento de fronteiras, a criminalização de usuários e pequenos traficantes, etc. Não lembro o nome do livro, mas o site tem muita coisa do tema.

Tem mais um livro que não consigo lembrar o nome, quando descobrir posto aqui. É um dos melhores, explica detalhadamente o efeito de cada droga, se vicia, como se curar de crise de abstinência, etc. Foi aí que descobri que a nicotina é uma das mais viciantes que existe, com sintomas de abstinência fortíssimos, por isso tanta gente pena pra largar o cigarro.

Encerrando...

To cansado de escrever, tem mais coisa pra falar, mas uma parte está aí. Tendo esse conhecimento todo teórico e tendo visto muita coisa na prática posso dizer que acho que teria mais benefícios em liberar a maconha que proibir. As demais drogas não acho, cocaína, crack, heroína é muito pesado, não existe situação de consumo responsável onde o usuário continua sendo um ser socialmente apto. As exceções somente confirmariam essa regra em minha opinião.

E o mais importante de tudo. Seria necessário criminalizar DE VERDADE as condutas socialmente danosas decorrentes do uso de drogas. Somos uma sociedade em que seres como Edmundo matam 3 pessoas dirigindo bêbado e seguem livres e aparecendo na TV. Quando esse cara aparece na TV eu mudo de canal. Então falar em liberar sem cuidar de que as pessoas paguem por seus erros sob o efeito de qualquer droga é complicado, somente aumentaria o monte de merda...

Chega de computador...amanhã tem mais...

Um comentário:

Homem Oco disse...

fala meu brother!! legal texto!! eu ja li A Erva do Diabo e Uma Outra Realidade do Castaneda....tb li outros livros sobre o assunto...

o argumento do Dano Minimo é o que mais pega...foi o que tentei expor no meu texto original...

ontem conversei um montao com uma amiga psicologa que trabalhou um tempo com droga adiçao....fiquei com vontade de continuar esse assunto...vou escrever um outro texto depois...

abs