quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Saindo do armário

Até algum tempo atrás, considerava que convivia com pessoas esclarecidas, e achei que isso era uma coisa boa. Afinal de contas, o que melhor do que estar com pessoas que sabem o que pensam sobre espiritualidade, o sentido da vida, destino e livre arbítrio, enfim, todas estas questões que por milênios os sábios vêm tentando decifrar.

Ouvi muita gente. Tive muita oportunidade de formar a minha opinião. Horas sem fim foram passadas discutindo estes assuntos, li um pouco também para ver o que os chamados sábios pensavam, e formei minha própria conclusão:

Foda-se.

Eu não me importo. Ficar discutindo, refletindo, pensando e repensando estes assuntos não vão tornar a minha vida melhor. Não acredito que vou ser mais feliz por causa disso. Cheguei à conclusão que grande parte das horas dedicadas foram um exercício de lógica, e não uma busca de respostas.

Como é bom poder tirar este peso das minhas costas! E aproveitando o embalo das afirmações egocêntricas:

Sou zero espiritual. Não sinto a necessidade de acreditar em uma força superior que dê sentido para tudo. Não me faz a menor diferença. Existindo ou não um deus, não muda nada na minha vida, então não vou mais me dar o trabalho de pensar nisso. Nem preciso dizer que abomino toda e qualquer organização religiosa. Não é orando nem meditando que cuido de minha alma. Cuido dedicando tempo para mim – passando tempo com minha mulher, vendo televisão, bebendo cerveja com os amigos, fazendo uma boa viagem,...

Minhas posições políticas? Acho que sou sim conservador e reacionário, e não tenho nenhum problema com isso. Acho que o governão-paizão é um lixo, já que não sabem fazer nada direito, e que as pessoas têm que trabalhar para conseguir o que querem. Acho que educação não é para todo mundo. Acho que aborto é questão de escolha da mãe. Educação superior não é para todo mundo. Sou a favor da pena de morte.

Eu sou um nerd. Não um geek, que acho isso coisa de patricinha e de nerd ressentido. Curto quadrinhos, já vi Guerra nas estrelas dezenas de vezes, curto jogar vídeo game, gosto de ficar decifrando quebra-cabeças, e tem assuntos que eu gosto de estudar. Gosto de literatura pop - tentei ler alguns clássicos mas achei que, apesar de boas histórias, o estilo me dá sono. Acho que pouquíssima coisa de qualidade foi gravada a partir da década de 90. David Lynch e o Kubrick me fazem apagar em poucos minutos. A maior parte do teatro é um pé no saco, especialmente os lances minimalistas. Ah, também tenho uma dificuldade imbecil de me relacionar com mulheres, especialmente as bonitas.

Tenho minhas raivas do mundo corporativo, mas também tenho saudades de muita coisa. Eu gostava sim de ter um monte de gente em volta, gostava de ver meu trabalho na rua, gostava de poder falar que todo mundo estava fazendo tudo errado. Tenho conversado com bastante gente – autônomos, empreendedores, corporativos, vagabundos, e tenho assunto, coisas pra aprender, coisas para ensinar, e risadas com todos eles. Os empreendedores não sabem o segredo da vida, os corporativos não são todos cinzentos, e os vagabundos não têm a melhor vida do mundo.

Não acho trabalhar a pior coisa do mundo. Aliás, estou curtindo para caralho o que estou fazendo. Convivendo com gente bacana, procurando jeitos novos de ganhar dinheiro, discutindo assuntos que acho interessantes, com gente inteligente.

Eu gosto de conforto. Dormir em colchão bom, me enxugar com toalha macia, comer bem, ter um bom carro. Poderia viver com menos? Sim, eu poderia. Preciso de menos? Quem se importa. O ponto é: me dá prazer viver bem, e proporcionar uma boa vida para aqueles que estão à minha volta. Também não acho que todo mundo que quer curtir uma boa vida é vazio e superficial.

Ah, antes que me perguntem - não, não sou gay. Não tenho nenhum problema com quem é, desde que não fique se agarrando do meu lado, porque sim, ver dois caras dando uns malhos me incomoda.

Não me acho um ignorante. Já passei horas discutindo cada um destes assuntos, conheço os argumentos contrários, sei que toda regra tem sua exceção, etc. Mas se tivesse que fazer uma afirmação definitiva sobre cada um destes pontos, seria isso.

Serei vazio, preconceituoso, superficial, etc? Repito - é libertador não ligar para a resposta.

3 comentários:

Masamune disse...

Putz, o nível dos posts subiu muito...vou ter que me aprimorar !!

Com algumas coisas eu concordo, outras não. Mas concordo 110% com o que está no final.

"Não me acho um ignorante. Já passei horas discutindo cada um destes assuntos, conheço os argumentos contrários, sei que toda regra tem sua exceção, etc."

Nada irrita mais que o relativismo dos idiotas. Gente que ao escutar opiniões como essas desse post saem criticando, dizem que vc não conhece a realidade, que é um alienado...

Porra, o cara é inteligente, passou horas discutindo o assunto, tomou sua posição. Pode mudar de idéia? Claro que pode, mas até lá, ele vai viver essa verdade, a verdade DELE.

Sinto isso quando às vezes falo de algum assunto sobre o qual ja refleti muito, e sou tachado de preconceituoso. Principalmente pelos politicamente corretos de plantão. Haja saco !!

Eu sou pós-conceituoso. Já estudei, discuti, pensei bastante, e formei meu conceito. Não gostou?
Sinto muito.

Homem Oco disse...

sem dúvida é libertador nao ligar para a resposta!!

parabéns pela iniciativa!

Rivotril disse...

achei muito bom o POST:
1-por falar abertamente o que pensa;
2-tudo o que voce escreveu e pensa e faz não faz mal a ninguém são somente suas opinioes e seu jeito de enxergar a vida;
3-Legal tb tomar uma decisão depois de pensar bastante e estar feliz com ela;
Tb não concordo com tudo, principalmente a parte espiritual, mas legal vc colocar isso pra fora.