Os argentinos tem uma expressão muito interessante que é o "Se me complico". Essa expressão funciona como uma desculpa vaga, e dispensa maiores perguntas exploratórias - ele não vai responder, só vai repetir "se me complico, se me complico!" ficando cada vez mais bravo. O usuário da expressão também está isento de qualquer consequência de seus atos. Se ele alega "Se me complico", então não precisa devolver o dinheiro, contratar mais gente para acelerar a obra, ou qualquer coisa do gênero.
Eu pensava que isso era coisa daquela gente argentina. Mas, pensando com um pouco menos de preconceito - ainda não conheci argentinos suficiente para dizer que o que penso deles seja um pós-conceito - cheguei a conclusão de que não é. Eles são é mais avançados que nós.
Um pouco de matemática:
Quando eu era criança, aprendi que o conjunto dos números inteiros eram os números naturais, os números opostos aos naturais, e o zero. Já os números naturais são aqueles, o um, dois, três, etc.
Esse conceito, aplicado na vida real é assim: o conjunto Dinamarca contém empresas que funcionam e que não funcionam. O subconjunto das empresas que funcionam detém uma parte maior do lucro total to que o subconjunto das empresas que não funcionam.
Vamos agora aplicar a mesma regra ao Brasil. O Brasil é o conjunto das empresas que funcionam mal ou não funcionam. Seguindo a mesma lógica, podemos inferir duas coisas:
1. Existe muita gente insatisfeita com o trabalho por elas prestado, mas acaba escolhendo uma e ficando com ela. O que quer dizer que o subconjunto Incompetentes é maior do que deveria ser.
2. Existe gente que fica tão irritada com o nível das empresas que prefere não comprar o produto ou serviço. O que quer dizer que existe um subconjunto "potencial" chamado Insatisfeitos.
Vocês que me conhecem já me ouviram falar que a gente tem nível para fazer qualquer coisa melhor do que a média do mercado. E não estou sendo arrogante, estou sendo realista.
Fiquei então pensando, por que eu nãi fiz isso até agora então?
Andei lendo umas coisas sobre empreendedorismo. Dizem que o brasileiro é dos povos menos empreendedores. Somos mesmo. Apesar de sabermos conviver com o risco (afinal, tivemos inflações de 1000%, Plano Collor, mercados de trabalho instáveis, e várias outras situações onde as coisas mudavam de um dia para o outro), nós o evitamos a qualquer custo. Mesmo achando que posso fazer as coisas melhor que os outros, nós faço.
E aí vem o segundo nível de "por que?" Porque acredito que fazer bem feito não é fator crítico de sucesso. É tão difícil - não a operação de um negócio, mas sua gestão - que assusta. As exigências são imensas e espalhadas por todo lado. O sistema é corrupto, o que exige uma quantidade de bolas gigante, ou um investimento altíssimo para atendê-las. Seu maior cliente exige 120 dias para te pagar, conforme acabei de ler. Seu maior cliente exige custos tão baixos que atendê-lo se torna pouco atraente.
Empreender no Brasil é coisa de herói. Por isso, fui deixando para quando estiver "mais preparado".
E este é o meu jeito singelo de contribuir para um país pior.
Nao saber
Há 8 anos
7 comentários:
putz velho, discordo de vc..o brasileiro é um dos povos mais empreendedores do mundo (tá lá nas estatisticas do SEBRAE.
É díficil? é,pra caraca, posso falar de carteirinha...falta crédito, a burocracia e a corrupção atrapalham muito entre outros. Mas rola..e rola bem...aqueles que se preparam para atravessar os dois primeiros anos, têm grandessissimas chances de se realizarem ( o que quer que isso signifique pra vc).
Cuidado com as desculpas que damos para nós mesmos...quanto mais verdadeiras, mais perigosas...
abração
tb vou concordar com o Caio, é foda mas se a gente é mesmo acima da média por que não daria certo?
Mas no fundo o cara que abre um negócio não coloca na conta os benefícios que teria numa empresa, ele simplesmente abre pq tá numa merda e não tem opção (pelo menos parte deles age assim) e de certa forma dá certo.
Cara, eu concordo com vocês. Eu não estou falando da forma como as coisas são, mas da forma como eu percebo elas.
Percebo que tenho um puta medo porque tem muita coisa que pode dar errado, porque eu sou um cara que responde a necessidades e nao que as gero, tudo isso.
E não to reclamando da dificuldade que é o mundo, mas me recrimino porque, num mundo de empreendedores medíocres, eu que me acho melhor que isso não empreendo.
Esse é só um post de desabafo mesmo.
hehe, curti seu comentário...é animal quando começamos a sacar quem somos e não quem gostaríamos de ser...
não quis te criticar não, to de corpo e alma nesse jogo tb
bom, boa sorte pra nós, seja qual for o caminho que escolhermos..
Puts, foi só eu ter que trabalhar um pouco que perdi o movimento por aqui...
A parte da matemática e dos subconjuntos eu não entendi, tem como fazer um desenho???
Fazer bem é fator crítico de sucesso sim. O ponto é saber O QUÊ é preciso fazer bem em cada caso.
A eficiência da operação, melhor atendimento, podem não ser o fator crítico. Pode ser:
- Preço - supermercado por ex.
- Contatos - Headhunting
- Malandragem - Dono de puteiro
E mil outros exemplos, tenho visto que pessoal é uma mega-barreira. O nível é baixo, e ter a capacidade de gerenciar esse povo é crucial.
respondendo ao Rivotril..dificilmente vc abrirá um negócio se se ativer aos números do seu business plan...geralmente eles mostram que trabalhar em uma empresa é mais vantajoso...e talvez seja mesmo...pelo menos no médio prazo...
eu conheci gente que começou um negócio por falta de opção e gente que começou por opção..e conheço casos de sucesso e fracasso nas duas situações...
sei lá, ultimamente acho que o importante é tentar ficar legal com a sua escolha..saber o que te levou a faze-la e trabalhar para que aquele caminho floresça...
Discordo do último comentário, acho que tem muitos Planos de Negócio que valem a pena financeiramente sim.
O problema é que em geral os números são previsões e em geral dão errado....
Outra coisa. Tem que projetar o fluxo de caixa do negócio por 2 anos no mínimo. Pois tem muito negócio viável que não vai pra frente por falta de grana no dia-a-dia.
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