segunda-feira, 18 de maio de 2009

Acidentes fortuitos e síntese

Era uma vez um diretor. No começo de sua carreira, foi selecionado para fazer um filme por ter duas características: Uma nacionalidade atraente e ser maleável. Diz a lenda que, em determinado momento da filmagem, foi ao banheiro e, de dentro de uma das cabines, ouviu dois técnicos comentando sua incompetência. Envergonhado, esperou que os dois saíssem antes de voltar ao set. O ator principal era chamado, em suas costas, de "aquele anão".

O diretor era o Coppola, "aquele anão" era o Al Pacino, e o filme era o Poderoso Chefão.

Gosto dessas histórias de gente que não tinha uma puta idéia do que estava fazendo, e produz uma obra de arte. Me dá esperança de um dia fazer alguma coisa que alguém vai dizer que é incrível (só se for sem querer mesmo, hahhahaha).

Aqui vai uma outra.

Em 1986, um outro diretor, também pouco expressivo, resolveu fazer um filme de guerra. Seguiu o processo normal, juntou uns atores, escolheu uma locação, filmou, editou, pôs uns efeitos especiais, uma trilha sonora. O orçamento de 6 milhões de dólares não permitia grandes luxos, então escreveu ele mesmo o roteiro, pegou um lugar no meio do nada, juntou um monte de principiantes - ele mesmo, os atores, o diretor de fotografia, o cara da trilha sonora...

Os atores que o menino chamou são o Tom Berenguer, Willem Dafoe, Charlie Sheen, Johnnie Depp, Forest Whitaker. O diretor de fotografia, Robert Richardson, hoje acompanha o Tarantino e fez Kill Bill, por exemplo. O diretor de música fez um monte de coisas, mas nesse filme ele acertou a mão mesmo. E o diretor é o Oliver Stone. O filme rendeu 140 milhões de dólares só nos Estados Unidos.

Me pergunto se as pessoas que participaram da produção do Platoon sabiam que estavam fazendo este puta filme.

Foda mesmo é que este filme tem uma das trilhas sonoras mais foda que já ouvi. E uma fotografia incrível. E personagens críveis, que representam ideais, o sistema, as pessoas perdidas no meio disso tudo, aqueles que tomam partido, aqueles que se recusam a tomar partido.

Não tem uma vez que eu vejo esse filme, e não choro em dois momentos. O primeiro é quando o Elias é deixado para trás pelo helicóptero, e a sensação que se tem é de que acabou, de que o mundo é uma merda e pouco a pouco, as coisas que tem um mínimo de brilho e bondade vão sendo apagadas dele.

E a segunda cena é quase uma resposta a primeira. Depois que o personagem principal vê soldados estuprando mulheres, brutalizando deficientes, seus amigos morrendo, sendo assassinados, e tudo o mais, Charlie Sheen está indo embora do Vietnam dizendo "A guerra acabou para mim agora. Nós, os sobreviventes, temos a obrigação de reconstruir, de ensinar o que aprendemos e tentar, com o que restou de nós, encontrar a bondade e sentido na vida."

Vai ser bom em sintetizar assim na puta que pariu.

4 comentários:

caio disse...

vixe, post cabuloso...

só para completar as informações: a paramount quase demitiu o coppola por duas vezes durante as filmagens do Poderoso Chefão...uma delas, inclusive, porque ele insistia em ter "aquele anão" no elenco...

qto ao tema do post, eu tenho uma opinião formada..preciso pensar um pouco mais a respeito..

caio disse...

caraca, eu NÃO tenho uma opinião formada..

Rivotril disse...

baixei e vou ver amanhã de novo pra relembrar.

Masamune disse...

Legal mesmo, a arte tem esse poder. Verdades avassaladoras e absolutas atiradas à sua cara.

Em inglês seria "The brutal truth!"

Mas não compro muito essa idéia de acidente. O elenco de Platoon é pesado, gente nuito foda. O cara não fez à toa.

O poderoso Chefão já era um livro do cacete, do Mario Puzo. O filme nào iria ser pouca merda.

Agora, nós sabemos que coisas geniais sempre sofrem oposição da mediocridade - maioria das pessoas. O "consensus" nunca gera obras-primas...