Separei em
tópicos nossa discussão para continuar por aqui. Vou começar pelo artigo em si,
e nossos comentários
Intercalei usando cores para tentar dar um ritmo de discussão. Se alguém tiver algo para acrescentar pode me mandar que eu insiro ( acho que só eu posso editar a postagem...)
O artigooriginal era do Michael Ignatieff no Estadão, sugerido pelo Oco.
Masamune ( essa foi minha 1a. resposta )
É um artigo bem longo, com vários
temas entrelaçados. Acho um pouco complicado quando autores misturam muito as
coisas como ele fez mas tem alguns pontos ali interessantes.
Eu acho que a grande disputa entre
Capitalismo x Comunismo se transformou numa disputa entre Liberdade
x Autoritários. O comunismo como sistema econômico nunca existiu de
verdade, foi uma teoria que se provou desastrosa para o bem-estar das pessoas
toda vez que se tentou colocá-la em prática. E os próprios comunistas mais
inteligentes sabem disso.
Eu acho que o comunismo foi na
verdade a desculpa que os Autoritários usaram no século passado para dominar
outras pessoas. O grande embate se dá entre pessoas que querem mandar, sedentas
por Poder, e aquelas que querem ser deixadas em paz e não desejam mandar nos
outros. O comunismo, socialismo, como todos os coletivismos, se prestam ao
desejo dos Autoritários, visto que nesses sistemas o indivíduo é colocado
abaixo do "coletivo" ou da sociedade.
O artigo destaca o caráter
autoritário dos regimes russo e chinês como uma opção para muitos países da
África por exemplo. E coloca os EUA como exemplo desanimador por conta dos
recentes embates entre Republicanos x Democratas. Quando ele afirma que "
Durante dois séculos o mecanismo constitucional dos EUA foi admirado." ele
está contando uma mentira e ele mesmo se contradiz no início do artigo quando
fala dos viajantes que retornavam da Russia ou Itália admirados com o espírito
de comunidade presente nesses lugares.
O autor é um liberal na forma como
o termo é usado nos EUA/CAN/UK. O Obama é um liberal. Os liberais do hemisfério
norte são os mais autoritários. Por lá são os Conservadores que defendem a
liberdade.
Achei algumas informações nesse
link que detalha um pouco de sua tentativa fracassada de se tornar Primeiro
Ministro no Canadá.
Ele é um intelectual que viveu por
30 anos na Inglaterra e voltou para o Canadá para tentar ser político. O Olavo
de Carvalho já destacou bem num podcast o perigo que representam os
intelectuais no Poder. É um pouco contra-intuitivo, visto que gostamos de
exigir diploma universitário do Lula...mas vale a pena ouvir para entender o
argumento.
Nesse mesmo podcast ele destaca o
perigo de um país defender a Economia de Mercado e o Estado Mínimo sendo
vizinho de um país Autoritário e de Planejamento Centralizado. Ora, um país que
abra mão de sua auto-defesa, que se volte "para dentro" somente
terminará sendo atacado por uma potência externa. Não estou falando aqui do que
é certo, justo ou bonito. Estou simplesmente dizendo que um país rico deve ser
capaz de se defender sob pena de se ver ameaçado por um pobre com canhão. É o
nosso caso quando saímos nas ruas em SP.
Não me considero em posição de
julgar quais os conflitos os EUA deveriam se meter ou não. Geopolítica é um
negócio bem complicado e para poucas pessoas entendidas - não sou uma delas.
Não enxergo como proveitoso para os EUA se meter em conflitos que não o ameacem.
No entanto o conceito de ameaça deve ser ampliado , nem sempre a ameaça está
nas fronteiras - vide o 11/Set e Hitler/Japão, ambas ameaças que pareceram
distantes e terminaram em território americano. Essa ampliação da esfera de
influência seria objeto de eternas discussões e teria algo subjetivo, mas na
minha opinião deve existir.
As democracias Ocidentais como uma
força mundial, melhor representadas pelos EUA que por qualquer outro país,
devem ser defendidas por qualquer um que anseia por ser livre. O modelo de
sociedade russo/chinês/islâmico não deveria ser tolerado por nenhum ocidental
livre, ainda que muitos gostem de viajar pra lá e se sentir mais conectados com
uma força mística do universo...
Eu acho que o autor dá voltas para
no final atacar os EUA e defender um brutal aumento nos impostos. Foi na
verdade nesse final que ele se entregou totalmente, mostrando sua face mais
coletivista e no final autoritária. Taxar é coerção. Quando o Estado cobra
impostos ele está tomando riqueza de indivíduos que a geraram. O modelo que ele
defende aumenta o Poder do Estado. É mais autoritário portanto.
É difícil refutar um artigo que
fala coisas com as quais concordamos. Muitas vezes o artigo vai indo por
caminhos que me agradam e com idéias que concordo para no final degringolar em
temas que discordo totalmente. É muito difícil se posicionar pois muitas vezes
os temas são complexos e entrelaçados.
Acho que é o caso desse artigo. Eu
não gosto da postura do autor de enxergar o Estado como solucionador dos
problemas ou regulador da sociedade. Estado maior significa maior concentração
de Poder. E esse tipo de coisa sempre vai atrair os autoritários, que de um
jeito ou de outro irão se apossar desse Poder para esmagar outras pessoas. Não
adianta eliminar o Rei, tem que desmontar as estruturas de Poder que permitam
que exista um Rei. Os revolucionários nunca querem isso, eles querem tomar o
lugar do Rei para eles mesmos mandarem. Em geral como Imperadores...
P.S. Fora a enorme burrice
econômica de achar que menos desigualdade geram crescimento...vou dar um
desconto e chamar de burrice, pois parece na verdade má-fé mesmo...
Aqui eu começo a alternar para tentar dar um ritmo melhor.
Homem Oco em preto e Masamune em azul
1)
Texto do Michael Ignatieff
Oco - Concordo
com muita coisa da sua análise no sentido de que discordo de muita coisa do
texto :)...ele navega por muitos assuntos, por vezes fica complexo - no sentido
ruim da palavra - e falha na conclusão. Porém, acho que acerta em alguns
pontos:
Masa - Relendo meus comentários e os seus fica claro que concordamos mais que discordamos. Vou focar nos seus pontos que ficaram mais claros que os meus para prosseguir na discussão.
1-
Diferentemente de você, minha leitura é a de que ele defende a estrutura
democrática e assinala que a existencia de regimes autoritários que demonstram
relativo sucesso - como a China hoje e a Cingapura do passado recente - nao sei
como andam as coisas por lá - pode nos dar a falsa impressão de que o
autoritarismo é uma opção. Não me lembro se ele cita Russia ou qualquer estado
islamico. Se o faz, ponto negativo pois não há nada que preste por lá (com
exceção às russas...p).
1 – Posso ver desse jeito, como o autor defendendo a estrutura democrática. O meu problema é que ele defende um Estado com mais poderes do que eu gostaria, e um governo desse tipo caminha na direção do Autoritarismo. Autoritarismo que pode conviver com a democracia, por incrível que pareça. Hitler, Mussolini, Chavez e a Dilma foram eleitos e são autoritários. Sem liberdade econômica não há liberdade política. E o Estado tende sempre a suprimir a liberdade econômica, na verdade ele existe para suprimir liberdades. O que não é ruim obrigatoriamente. Viver em Sociedade pressupõe abrir mão de certas liberdades.
2
- Além do óbvio ululante de ressaltar que a questão fiscal é o maior desafio de
qualquer governo, ele destaca que o destino dos gastos deve receber maior
atenção do que simplesmente a relação divida x PIB. Concordo e corroboro com a
sua postura quanto à analise geopolítica - tb me considero incompetente para
ela - mas isso não muda o fato de que USD 1 é USD 1. Nós 4 aqui copiados
sabemos que a primeira tarefa do gestor é definir prioridades. USD 1 gasto em
alguma coisa (seja financiando uma campanha militar ou um sistema universal de
saúde) é USD 1 não-gasto em outro lugar, ou pior, é USD 1 que poderia ficar com
a sociedade em impostos não cobrados ou em dinheiro não tomado emprestado pelo
governo.
2 – Concordo plenamente que o destino dos gastos é importante. Mas como vc mesmo coloca há que definir prioridades e o tamanho dos gastos vem antes. A maior parte dos países, os EUA em destaque, tem orçamentos imensos, Estados que gastam demais. Não há direcionamento que salve uma situação dessas. É como ficar discutindo onde vai gastar a verba de MKT que representa 35% da receita bruta de um produto. A conta não vai fechar...mas basicamente concordamos que há que controlar e direcionar melhor os gastos.
3
- Ele critica, de forma construtiva, a análise dos editorialistas da The
Economist (revista que eu admiro muito). Acho o exercicio saudável. Apesar de
apontar solução incorreta - no meu modo de vista - como a elevação da taxação
para os mais geradores de riqueza, ele levanta falhas no bom artigo do John
Micklethwait. (Só um adendo aqui: a idéia de que desigualdade afeta o
crescimento do país no longo prazo não é do autor, e sim do Joseph Stiglitz,
prêmio Nobel de Economia, como é deixado claro no texto. Podemos não concordar
com ela mas penso que devemos ter mais cuidado ao taxa-la de burra ou fruto de
mau-caratismo).
3 – Esse é o ponto mais importante
e a meu ver é o objetivo maior do artigo. O suposto dilema entre Desigualdade x
Crescimento. Nesse ponto ele mistura Economia com Política, o que acho um erro.
Em política pode ser que ele tenha razão, nas palavras dele no final do artigo:
“As desigualdades ameaçam a
igualdade política sem a qual o Estado liberal não pode funcionar”
Existe lógica nessa afirmação mas
as soluções para isso são infinitas e não é minha praia. Quanto à Economia vou
responder em outra postagem pois está ficando enorme meu argumento.
Valeu pelas respostas. Muito boa
discussão. Acho que fui bem duro nas minhas primeiras colocações, confesso que
o formato do artigo me incomoda. Mas é de um nível bem melhor que temos em
terras Brazucas, valeu mesmo por compartilhar.
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