quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Nossa discussao por email - tentando deixar melhor para acompanhar.


Separei em tópicos nossa discussão para continuar por aqui. Vou começar pelo artigo em si, e nossos comentários

Intercalei usando cores para tentar dar um ritmo de discussão. Se alguém tiver algo para acrescentar pode me mandar que eu insiro ( acho que só eu posso editar a postagem...)

O artigooriginal era do Michael Ignatieff no Estadão, sugerido pelo Oco.


Masamune ( essa foi minha 1a. resposta )

É um artigo bem longo, com vários temas entrelaçados. Acho um pouco complicado quando autores misturam muito as coisas como ele fez mas tem alguns pontos ali interessantes. 

Eu acho que a grande disputa entre Capitalismo x Comunismo se transformou numa disputa entre Liberdade x Autoritários. O comunismo como sistema econômico nunca existiu de verdade, foi uma teoria que se provou desastrosa para o bem-estar das pessoas toda vez que se tentou colocá-la em prática. E os próprios comunistas mais inteligentes sabem disso.

Eu acho que o comunismo foi na verdade a desculpa que os Autoritários usaram no século passado para dominar outras pessoas. O grande embate se dá entre pessoas que querem mandar, sedentas por Poder, e aquelas que querem ser deixadas em paz e não desejam mandar nos outros. O comunismo, socialismo, como todos os coletivismos, se prestam ao desejo dos Autoritários, visto que nesses sistemas o indivíduo é colocado abaixo do "coletivo" ou da sociedade.

O artigo destaca o caráter autoritário dos regimes russo e chinês como uma opção para muitos países da África por exemplo. E coloca os EUA como exemplo desanimador por conta dos recentes embates entre Republicanos x Democratas. Quando ele afirma que " Durante dois séculos o mecanismo constitucional dos EUA foi admirado." ele está contando uma mentira e ele mesmo se contradiz no início do artigo quando fala dos viajantes que retornavam da Russia ou Itália admirados com o espírito de comunidade presente nesses lugares.

O autor é um liberal na forma como o termo é usado nos EUA/CAN/UK. O Obama é um liberal. Os liberais do hemisfério norte são os mais autoritários. Por lá são os Conservadores que defendem a liberdade. 

Achei algumas informações nesse link que detalha um pouco de sua tentativa fracassada de se tornar Primeiro Ministro no Canadá. 

Ele é um intelectual que viveu por 30 anos na Inglaterra e voltou para o Canadá para tentar ser político. O Olavo de Carvalho já destacou bem num podcast o perigo que representam os intelectuais no Poder. É um pouco contra-intuitivo, visto que gostamos de exigir diploma universitário do Lula...mas vale a pena ouvir para entender o argumento.


Nesse mesmo podcast ele destaca o perigo de um país defender a Economia de Mercado e o Estado Mínimo sendo vizinho de um país Autoritário e de Planejamento Centralizado. Ora, um país que abra mão de sua auto-defesa, que se volte "para dentro" somente terminará sendo atacado por uma potência externa. Não estou falando aqui do que é certo, justo ou bonito. Estou simplesmente dizendo que um país rico deve ser capaz de se defender sob pena de se ver ameaçado por um pobre com canhão. É o nosso caso quando saímos nas ruas em SP. 

Não me considero em posição de julgar quais os conflitos os EUA deveriam se meter ou não. Geopolítica é um negócio bem complicado e para poucas pessoas entendidas - não sou uma delas. Não enxergo como proveitoso para os EUA se meter em conflitos que não o ameacem. No entanto o conceito de ameaça deve ser ampliado , nem sempre a ameaça está nas fronteiras - vide o 11/Set e Hitler/Japão, ambas ameaças que pareceram distantes e terminaram em território americano. Essa ampliação da esfera de influência seria objeto de eternas discussões e teria algo subjetivo, mas na minha opinião deve existir. 

As democracias Ocidentais como uma força mundial, melhor representadas pelos EUA que por qualquer outro país, devem ser defendidas por qualquer um que anseia por ser livre. O modelo de sociedade russo/chinês/islâmico não deveria ser tolerado por nenhum ocidental livre, ainda que muitos gostem de viajar pra lá e se sentir mais conectados com uma força mística do universo...

Eu acho que o autor dá voltas para no final atacar os EUA e defender um brutal aumento nos impostos. Foi na verdade nesse final que ele se entregou totalmente, mostrando sua face mais coletivista e no final autoritária. Taxar é coerção. Quando o Estado cobra impostos ele está tomando riqueza de indivíduos que a geraram. O modelo que ele defende aumenta o Poder do Estado. É mais autoritário portanto.

É difícil refutar um artigo que fala coisas com as quais concordamos. Muitas vezes o artigo vai indo por caminhos que me agradam e com idéias que concordo para no final degringolar em temas que discordo totalmente. É muito difícil se posicionar pois muitas vezes os temas são complexos e entrelaçados. 

Acho que é o caso desse artigo. Eu não gosto da postura do autor de enxergar o Estado como solucionador dos problemas ou regulador da sociedade. Estado maior significa maior concentração de Poder. E esse tipo de coisa sempre vai atrair os autoritários, que de um jeito ou de outro irão se apossar desse Poder para esmagar outras pessoas. Não adianta eliminar o Rei, tem que desmontar as estruturas de Poder que permitam que exista um Rei. Os revolucionários nunca querem isso, eles querem tomar o lugar do Rei para eles mesmos mandarem. Em geral como Imperadores...

P.S. Fora a enorme burrice econômica de achar que menos desigualdade geram crescimento...vou dar um desconto e chamar de burrice, pois parece na verdade má-fé mesmo...

Aqui eu começo a alternar para tentar dar um ritmo melhor.

Homem Oco em preto e Masamune em azul

1) Texto do Michael Ignatieff

Oco - Concordo com muita coisa da sua análise no sentido de que discordo de muita coisa do texto :)...ele navega por muitos assuntos, por vezes fica complexo - no sentido ruim da palavra - e falha na conclusão. Porém, acho que acerta em alguns pontos:

Masa - Relendo meus comentários e os seus fica claro que concordamos mais que discordamos. Vou focar nos seus pontos que ficaram mais claros que os meus para prosseguir na discussão.

 
1- Diferentemente de você, minha leitura é a de que ele defende a estrutura democrática e assinala que a existencia de regimes autoritários que demonstram relativo sucesso - como a China hoje e a Cingapura do passado recente - nao sei como andam as coisas por lá - pode nos dar a falsa impressão de que o autoritarismo é uma opção. Não me lembro se ele cita Russia ou qualquer estado islamico. Se o faz, ponto negativo pois não há nada que preste por lá (com exceção às russas...p).

1 – Posso ver desse jeito, como o autor defendendo a estrutura democrática. O meu problema é que ele defende um Estado com mais poderes do que eu gostaria, e um governo desse tipo caminha na direção do Autoritarismo. Autoritarismo que pode conviver com a democracia, por incrível que pareça. Hitler, Mussolini, Chavez e a Dilma foram eleitos e são autoritários. Sem liberdade econômica não há liberdade política. E o Estado tende sempre a suprimir a liberdade econômica, na verdade ele existe para suprimir liberdades. O que não é ruim obrigatoriamente. Viver em Sociedade pressupõe abrir mão de certas liberdades.

2 - Além do óbvio ululante de ressaltar que a questão fiscal é o maior desafio de qualquer governo, ele destaca que o destino dos gastos deve receber maior atenção do que simplesmente a relação divida x PIB. Concordo e corroboro com a sua postura quanto à analise geopolítica - tb me considero incompetente para ela - mas isso não muda o fato de que USD 1 é USD 1. Nós 4 aqui copiados sabemos que a primeira tarefa do gestor é definir prioridades. USD 1 gasto em alguma coisa (seja financiando uma campanha militar ou um sistema universal de saúde) é USD 1 não-gasto em outro lugar, ou pior, é USD 1 que poderia ficar com a sociedade em impostos não cobrados ou em dinheiro não tomado emprestado pelo governo.

2 – Concordo plenamente que o destino dos gastos é importante. Mas como vc mesmo coloca há que definir prioridades e o tamanho dos gastos vem antes. A maior parte dos países, os EUA em destaque, tem orçamentos imensos, Estados que gastam demais. Não há direcionamento que salve uma situação dessas. É como ficar discutindo onde vai gastar a verba de MKT que representa 35% da receita bruta de um produto. A conta não vai fechar...mas basicamente concordamos que há que controlar e direcionar melhor os gastos.
  
3 - Ele critica, de forma construtiva, a análise dos editorialistas da The Economist (revista que eu admiro muito). Acho o exercicio saudável. Apesar de apontar solução incorreta - no meu modo de vista - como a elevação da taxação para os mais geradores de riqueza, ele levanta falhas no bom artigo do John Micklethwait. (Só um adendo aqui: a idéia de que desigualdade afeta o crescimento do país no longo prazo não é do autor, e sim do Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, como é deixado claro no texto. Podemos não concordar com ela mas penso que devemos ter mais cuidado ao taxa-la de burra ou fruto de mau-caratismo).

3 – Esse é o ponto mais importante e a meu ver é o objetivo maior do artigo. O suposto dilema entre Desigualdade x Crescimento. Nesse ponto ele mistura Economia com Política, o que acho um erro. Em política pode ser que ele tenha razão, nas palavras dele no final do artigo:

“As desigualdades ameaçam a igualdade política sem a qual o Estado liberal não pode funcionar”

Existe lógica nessa afirmação mas as soluções para isso são infinitas e não é minha praia. Quanto à Economia vou responder em outra postagem pois está ficando enorme meu argumento.



Valeu pelas respostas. Muito boa discussão. Acho que fui bem duro nas minhas primeiras colocações, confesso que o formato do artigo me incomoda. Mas é de um nível bem melhor que temos em terras Brazucas, valeu mesmo por compartilhar.

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