quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Matemática e Ciência no experimento das borboletas

Pensem no seguinte experimento.

Uma criança está brincando com uma borboleta que está sobre a mesa. Quando a criança bate palmas a borboleta sai voando. A criança então arranca as asas da borboleta e repete a experiência. Ao bater palmas a borboleta não voa mais.

Conclusâo: As borboletas escutam com as asas !

Embora absurda, matematicamente a conclusão está correta. E cientificamente também, pois se você repetir o experimento os resultados serão os mesmos. Se a experiência for feita em outro continente, o resultado será idêntico.

Escutei essa história em um podcast muito bom, onde um especialista em matemática usa o exemplo para ilustrar como a matemática é muito boa para algumas coisas e péssima para outras. Segundo ele a matemática que usamos é uma linguagem excelente para construir pontes e edifícios, mas quando usada em outras áreas pode atrapalhar mais que ajudar. Como exemplo de outra linguagem cita a poesia de Drummond, perfeita para falar de amor e sentimentos.

A matemática seria boa para descrever relações entre coisas, materiais, objetos sem vontade própria. Não se aplica tão bem às relações entre pessoas ou seres dotados de intenção própria. Repare que estamos falando de relações, não dos seres ou objetos em si. É claro que a matemática é ótima para descrever a altura das pessoas ou o peso dos animais. Não se trata disso. O problema é nas relações.

Um engenheiro usa a matemática para descrever como uma viga de concreto irá interagir com a carga aplicada em um viaduto quando os carros passam sobre ele. Se fizer as contas direito, estimando o fluxo máximo de carros, o peso destes, pode calcular quanto aço colocar nas vigas para que o viaduto não desabe.

Só que a matemática tem seus adoradores, e eles tentam enfiar matemática em todo lugar. Experimente conversar com um engenheiro. O cérebro deles se torna matemático, em geral pensam de um jeito bem quadrado não é raro que sejam bem pouco aptos socialmente. Basta ver a quantidade de musas nas festas da Poli-USP.

Muitos economistas são assim. O mainstream da Economia, iniciado por Keynes e um pouco despiorado por Friedman, é predominantemente matemático. Na USP por exemplo se estudava Econometria, que é um amontoado de fórmulas, modelos e regressões matemáticas. Nem queira saber o que são regressões...

Só que embora a matemática seja útil para descrever alguns aspectos da Economia, ela distorce muito as coisas quando é usada para também explicar os acontecimentos econômicos. A Economia é resultado de interações humanas, são muitas pessoas interagindo e tomando muitíssimas decisões por dia. Usar raciocínios matemáticos para explicar relações humanas é um convite ao desastre. E é exatamente isso que está sendo feito pelos maiores especialistas econômicos.

Votando ao nosso experimento, para que a conclusão fosse aquele absurdo, a criança em questão não poderia saber nada sobre borboletas e outros animais com asas, nem conhecer o funcionamento do ouvido. Se ela fosse superdotada em matemática e aluna do Kumon ela poderia fazer essa confusão. Agora imagine que nossos economistas sejam asssim, conhecendo bem pouco sobre como as pessoas realmente pensam e tendo sido alunos do Kumon Keynesiano?

2 comentários:

Anônimo disse...

Hehehe...vamos lá...cara, você vai achar que eu estou pegando no seu pé (bem, talvez eu me divirta um pouco com isso..rs) mas juro que não é...veja meus comentários - nem sempre alinhados com as suas conclusões - como uma sinal de respeito...respeito por ter lido o texto, refletido sobre e me exposto comentando...isso posto, seguem meus comentários:

1) a sua conclusão é perfeita. aliás, me espanta você escrever um texto desse. pode ser apenas impressão minha mas pensei que você fosse defensor impermeável da metemática (e da lógica) em todos os fenômenos. enfim, a matemática é sim fundamental mas diversos campos navegam em outras áreas. A Economia é uma ciência humana. Assim como a Administração.

2) Entretanto, não dá pra dizer 'é preto ou é branco". A Econometria é fundamental nos estudos economicos (assim como a Contabilidade para a Administração). O erro está no peso que talvez se dê a ela na hora de tomar as decisões.

3) e, cara, entre nós, esse exemplo da borboleta é horrível. cientificamente tá todo errado. a ciência trabalha com hipóteses e os experimentos vão confirmando ou eliminando hipóteses. não dá, de forma alguma, para concluir nada com base em um experimento. nessa o autor do podcast errou feio!

bom ver a moçada voltando a postar!

abs,
Oco

Masamune disse...

Fala man.

Não sou de porcelana, pode bater à vontade. Já apanhei de gente bem pior e com quem não tinha qualquer amizade.

1 e 2 - Sou lógico pra caramba e acho que não tem outra forma de pensar mesmo. A questão do post, que foi algo novo pra mim também, é que a matemática pode ser mal utilizada ao tentar descrever fenômenos entre seres. É o caso do menino e a borboleta, o garoto simplifica ao extremo sua conclusão baseando-se em um único caminho:

Faço barulho>borboleta escuta>ela se assusta e voa

Quando ele tirou as asas e repetiu o 1o passo ele assumiu que o problema estava no 2o passo e portanto não teria o 3o passo. Ele usou somente o conhecimento matemático, sem a biologia que poderia ensiná-lo algo.

A Econometria se aplica à poucas situações, seu uso indiscriminado acaba causando mais mal que bem pois a maior parte das pessoas prefere acreditar em um número do que numa longa argumentação. Depois vou fazer um post sobre Planejamento Estratégico que vai na mesma linha.

3) Não vi dessa forma, sem querer pegar no seu pé, e já pegando, vc poderia postar aqui porque está errado com um pouco da teoria sobre experimentos científicos? Ou indicar leituras? Eu gostaria de aprender mais.

Valeu !!!