segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Tropa de Elite 3

Sou fanzaço de Tropa de Elite, mas por motivos diferentes dos que a maoria pelo que escuto.

No primeiro, a violência, a agressividade do Cap. Nascimento não foi o que mais me chamou a atenção. Ainda no primeiro, já prestava atenção no sistema....ver aquela engrenagem rodando, ver como policias inicialmente bem intencionados desencadeiam uma sequencia de eventos que saem do controle e dá uma merda geral...

Pois em muitos casos a corrupção começa de leve, como quando o Neto e o Matias roubam o achaque do jogo do bicho pra levantar as viaturas. Fica-se com a mensagem de que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão...mas tá tão errado quanto o esquema de propina...

Ver também que não existe uma inteligência central no sistema, não existe um gênio do mal comandando tudo, nem mesmo um grupo de chefes do tráfico. Existe um comando, é claro, mas com bem pouco poder na verdade. Tem poder no curto prazo, pode matar, roubar, mas de uma hora pra outra também pode morrer ou ser preso, que é o que geralmente ocorre.

Uma analogia a isso é o capitão de um transatlântico. Ele tem um enorme barco em suas mãos, e a palavra dele é ordem dentro do navio. No entanto, se vier uma tempestade, ele fica sujeito a ela como qualquer outro. Vai tentar manobrar e fazer o melhor possível, mas o barco pode afundar independente de qualquer iniciativa dele.

Quando o Tropa 2 deu tanto destaque ao sistema eu me animei. Fui na pré-estréia e a reação da platéia foi forte, mas senti novamente que por motivos distintos dos meus. Eu saí da sala pensando no Tropa 3.

Pois o sistema é composto de que? Como ele pode ser desmontado? Qualquer sistema é político e formado por pessoas. Ele se forma naturalmente quando as pessoas começam a interagir na sociedade, nas empresas, na polícia ou nas escolas. E o sistema vai ser tão podre ou distorcido quanto as pessoas que o formam.

Quando escuto uma Marina Silva metendo o pau no sistema atual, com aquele ar telúrico , sem fazer nenhuma proposta palpável (que não seja dar 1 bilhão para algum fundo), não posso deixar de pensar que seria trocar um sistema torto por outro. O problema não é a política, e sim as pessoas que fazem parte dela. Vivemos em uma sociedade podre, onde valores básicos ainda não estão estabelecidos e talvez não estejam em um prazo curto.

O brasileiro típico tem um desrespeito generalizado por regras de convivência, não valoriza a educação e o esforço. O BBB tem uma puta audiência, novelas idem. Quando rola uma pancadaria na novela, com parentes ou casais resolvendo disputas na porrada a audiência explode. Todo mundo dá propina pro guarda pra escapar de multa. Todo mundo chifra o namorado (a). Todo mundo mente para os amigos pra não ter que ir em algum evento que não tá afim.

A generalização acima se serve para prosseguir no argumento, é óbvio que existe todo tipo de pessoa. Se eu acho que em outros países é diferente? Em certo grau sim, acho que culturas de origem anglo-saxão e protestantes tendem a gerar sociedades mais ajustadas e ter mais retidão. Mas as pessoas são o mesmo em todo lado, e só deixam de ter determinado comportamento caso vejam benefício em abandoná-lo ou punição certa se insistirem nele.

Que dizer de uma sociedade como a nossa, onde existe uma lei que impede um analfabeto de assumir cargo público, e que fica discutindo o caso Tiririca? Se existe a lei, que se cumpra. A lei é ruim? Mude então, mas até lá, cumpra-se a lei. Vale o mesmo pro projeto ficha limpa, que não deveria valer para o mesmo ano de sua aprovação. Se "flexibilizar" de um lado, vai relaxar do outro também...

Acho que o Oco no post dele tocou em um ponto fundamental, que é a educação. Pois sem ela, nada vai mudar pra valer. Com pessoas que não leem, políticos como Lula e Dilma deitam e rolam. Pra quem não consegue fazer raciocínios lógicos, entender que o que o FHC fez em 1994 afeta a vida dele hoje é impossível. Por isso acho que a educação é a única saída para as pessoas.

Escrevo pessoas, pois são elas que um dia podem mudar o sistema. Cada um dos integrantes do sistema também é um operador dele, por ação ou omissão. O morador que aceita o controle da milícia e não reclama é por omissão. O que leva 10% é por ação. Os dois fazem parte do sistema.

E é isso que quero ver no Tropa 3. Pessoas tendo que se deparar com escolhas difíceis em busca do que acreditam. Não idealismo tosco, mas sim seguir valores. Ter valores e lutar por eles custe o que custar. Ter poucos valores, mas para esses, não recuar um milímetro sequer. Isso desmontaria o sistema atual, pois essas pessoas não fariam parte do sistema, e aos poucos montariam um novo, em linha com esses valores.

E quais são esses valores? Respeito à vida? Valorização inegociável das crianças? Respeito à propriedade? Meritocracia? Ética? Escolha os seus, pois o que acontece hoje é que o sistema é montado em cima de valores diferentes destes, mesmo que alguns dos operadores afirmem defendê-los. O sistema opera direitinho, só que dentro de valores que talvez não batam com os seus, por isso você estranha algumas coisas que ocorrem...

Todo mundo quer ser feliz (ou não se sentir infeliz). É maluco pensar que mesmo o Fernandinho Beira Mar busca ser feliz. Na escala de valores dele, matar alguém pra ter mais grana ou poder o fará mais feliz. E enquanto gente assim não enxergar possibilidade de punição, ou perda, vai continuar fazendo.

Punição por mau comportamento e Premiação por bom comportamento.

Monte sua sociedade como você treina seu cachorro...

2 comentários:

Cesar disse...

Eu também senti que gostei dos filmes (tanto o 1 quanto o 2) por motivos diferentes; eu gostei muito do 2, talvez na mesma proporção do que o primeiro, mas de forma diferente...não necessariamente melhor. Acho que em alguns aspectos muitos preferiram o 2 pq, além de mais politicamente correto, pq isenta um pouco as pessoas da crítica. O primeiro também esculhamba a polícia, mas esculhamba o discurso filosófico de esquerda movido à maconha, por ex. O sistema é f*d, como fala o cap nascimento, mas o sistema é algo geral; culpar o sistema isenta as pessoas da sua culpa. Uma das poucas coisas que o Lula falou com correção na sua história é que o "congresso é a cara da sociedade". Um olho no gato e outro no peixe...não adianta só culpar o sistema e achar que ética é uma coisa que só deve existir na vida política.

Homem Oco disse...

cara, um negócio que vc mencionou no texto que eu tenho cada vez mais reparado é essa história de que a corrupção começa de leve...isso é muito verdade..a gente vai aos pouquinhos fazendo uma coisinha aqui, uma coisinha lá e nosso padrão ético vai se "expandindo"...é perigoso pra caramba...

otimo texto